Perguntam-me por que ( ). E repetem a pergunta porque não entendem a resposta; sufoco-me em meu próprio desabafo—mas quaisquer palavras com sentido que saiam da minha boca não são registradas pelos indagadores, ao não se refletirem no bloco de expectativa assentado em suas cabeças—e custam a acreditar no que eu digo. Repetem a pergunta como se empregando uma estratégia—se não muito elaborada, tampouco velada—para me constranger em incoerência minha própria. Mas como se isso nunca acontecesse, repetem a pergunta. Cada vez que a ouço, uma névoa imediata invade a área entre meu cérebro e meus olhos. Esforço-me para não os fechar, embora os imagine ferozmente cerrados em uma violência própria do embate entre forças contrárias—isto é, fechados em uma concentração que me permitiria acessar a resposta que quero dar e, ao mesmo tempo, fechados para conter, a qualquer custo, a sensação que tomaria conta do meu corpo com a verdade—caso essa verdade tivesse livre passagem da minha mente para aquilo que meus olhos projetam. É de toda forma meu corpo que sofre os golpes da densa e involuntária batalha que não se importa se tem disponível apenas alguns segundos para intercorrer. Repetem a pergunta, distraídos do coliseu sanguinário que se agita à sua frente, esperando, ainda sorridentes, uma resposta que os convença. Uma minha resposta. Em meio ao fracasso que me habita, abro mão; satisfaço-os com qualquer bobagem que só serve ao propósito de me descredibilizar—e, se o fim da repetição que extenua alivia, a frustração vocifera.

Ao que agora decido—com uma finda resposta—que o destino da interlocução seja deslocado: