Eu não posso escrever mais que algumas frases. Alguns blocos separados por, talvez, cinco ou seis parágrafos; não mais do que isso. Tão somente.

Se penso na possibilidade de elaborar um livro, o melhor que posso imaginar, dado os tantos bilhetes espalhados pelos meus cantos (porque é isso o que são, pequenos pedaços de papel que tentam dar conta de um furor que parecia capaz de mudar a minha vida), seria uma « coleção de ensaios aforísticos » – como aquele livro do Emil Cioran que eu não teria comprado, soubesse disso se tratar. Porque, claramente, isso é o trabalho de alguém que não sabe escrever. Direito: de alguém que não sabe escrever direito.

Desculpa, Cioran. Não é indolência; estou bradando de impaciência. Ademais, cometo uma injustiça se não observar que, quando me reconhecia naquelas « frases aforísticas », e quando não me reconhecia também, sentia uma intimidade que não precisa se justificar; não precisa se desculpar; não precisa desculpar.

Lembrei de uma historieta que esbocei há muitos anos – tantos que não lembro quantos – tantos que não quero saber quantos. Sem saber o que fazer com uma introdução que iluminava desdobramentos potentes (sobre um homem que amava uma mulher), determinei um encerramento abrupto: « fim ». Fim, assim, sem piedade. Nem pelo leitor, nem pela própria história. Mas por um bem que me parecia mais importante: minha sanidade.

Minha sanidade? E o que é que faço agora?

Vou atrás dos papéis; buscá-los em meus cantos (buscar-me).