Invisível, eu me movimentava pela cidade. Repassava as ruas e os trajetos através de um mapa que se desenhava rapidamente na minha mente, em pausas que suspendiam o tempo e permitiam-me ponderar: onde encontraria os olhares que buscava?

Eles eram raros, mas infalivelmente nossos caminhos se cruzavam. O estranho, o desconhecido, não implicava obstáculo. Rapidamente uma conexão era criada, e então a empatia, comumente evidenciada em cúmplices sorrisos, dava lugar ao clique. Através da lente, o aguardado olhar era registrado – e nossos olhares, misteriosamente, trocados.

Aos poucos fui percebendo que, inevitavelmente, a cada vez que fechava (e abria), o obturador selava um destino: o retratado estava fadado a desaparecer. Inicialmente, eu creditava o fato às coincidências da vida. Não tardou até a angústia aparecer.

Cada olhar que eu ganhava era um olhar perdido.