antes que seja perdido ou esquecido • before losing or forgetting
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abrir a porta é ainda,
e sempre,
atravessar o mesmo portal
a sensação,
em sua essência intensificada pela discreta fachada,
é como em um ritual.
o outro lado,
síntese de um misto de emoções
– sentidas,
apreciadas,
compartilhadas ao longo de momentos tão preciosos
que a vontade de revive-los
passa como uma corda ao redor do coração
e aperta.
– vontade de revive-los, não
é um desejo de voltar àquele tempo,
materializar-me em meio àqueles personagens
que fui, que eles foram.
participar daquelas conversas,
daquelas danças,
daquela fumaça;
aqueles olhares
(2017)
nos dias em que tirava retratos, eu corria para casa. corria para casa para logo colocar as fotografias no computador e assim poder ver aqueles olhos estranhos na tela. e naqueles olhos me encontrar – literalmente. a minha ânsia era de logo aproximar o enquadramento e ver minha imagem refletida em suas pupilas. reconhecer-me refletida em seus olhos.
(2017)
‘Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar’
através deste olhar
sunrise or sunset – the way it shines, sunshine – it’s sunrise
(2016)
« uma coisa que estava aqui e não está mais »
naquela época eu não entendia, mas agora posso claramente sentir isso.
diversas coisas vem e vão, a maioria nos escapa aos olhos, algumas ao coração. há aquelas que se perdem no baú de memórias… as que ficam, de pequenos detalhes a paisagens e cenas mais intensas, conectam-se em um todo, por vezes confuso, da experiência. confuso pois as emoções são diversas e desafiam a lógica de um tempo linear ao brincar com a mente.
de repente, sou em quem estava aqui e não está mais. para o ambiente pouca diferença faz; é a interação dos elementos presentes naquele exato segundo que o constrói e formam sua verdade – constantemente mutável, mas sempre verdade. o gosto da não-mais-presença é amargo. é uma ruptura abrupta, mesmo que prevista e antecipada por uma pré-nostalgia.
contraditória nostalgia.
(2015)
Sabe, tem a história desse homem que amava uma mulher. A vida dele seguia baseada em uma rotina, dessas de fato muito bem estabelecidas. Cada coisa tinha seu lugar, cada compromisso seu horário, cada respiro uma vontade. Cada coisa que fazia, ele sabia por que fazia.
fim.
(2014)
Seus eus. Eles não são ninguém senão seus eus. Aquilo foi você mesmo quem disse. Você mesmo quem fez.
(2013)
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opening this door is still,
and always,
going through the same portal.
the sensation,
in its essence intensified by the discreet facade,
is like a ritual.
the other side,
synthesis of a mixture of emotions
– felt,
appreciated,
shared over such precious moments
that the will to relive them
passes like a rope around the heart
and tightens.
– no, not a desire to relive them,
but a wish to go back to that time,
to materialize myself amongst those characters,
which I was, which they were.
to take part in those conversations,
those dances,
those gazes
(2017)
on the days when i took portraits, i ran home. i would run home, so i could load the photos onto the computer and see those strange eyes on the screen. and, in those eyes, find myself – literally. my urge was to immediately enlarge the photograph and see my image reflected in their pupils; to recognize myself reflected in their eyes.
(2017)
sunrise or sunset – the way it shines, sunshine – it’s sunrise
(2016)
« something that was here and is no longer »
at the time, i did not understand, but now i can feel it clearly.
several things come and go, most of them escape our eyes, some escape our hearts. there are those that get lost in the trunk of memories… and those that remain, from small details to landscapes and more intense scenes, connect into a sometimes confusing ‘whole’ of experience. confusing because emotions are diverse and defy the logic of a linear time by playing with the mind.
suddenly, i am the one who was here and is no longer. for the environment, that makes little difference: it is the interaction of the elements existing in an exact second that builds it and forms its truth – constantly changing, but always ‹ true ›. the taste of no longer being present is bitter. it is an abrupt rupture, even if foreseen and anticipated by a pre-nostalgia.
contradictory nostalgia.
(2015)
you know, there is the story of a man who loved a woman. his life was based on a routine – one of those very well-established routines. each thing had its place; each appointment had its time; each breath, its desire. everything he did, he knew why he did it.
the end.
(2014)