ah, o romance
lado a lado
braços que se tocam
que tocam
toque que arrepia
a pele, eriça
os pelos
braços que se tocam
e tocam
o coração, na boca
derrete
se o tempo passou
o seu olhar não me falou
será que fiquei parada
enquanto o mundo girou?
ao redor, em fast-forward
as cores mudaram
e os ruídos silenciaram
tudo se passou
no tempo que seu rosto sério aguentou
tudo apareceu e sumiu
até que seu sorriso não resistiu
descompassado
o coração fica na torcida
para que o abraço
acerte a batida
sonho contigo
[ fixando o meu olhar pela janela
a imaginação se perde
dois caminhos se cruzam:
reconheço a sua presença – você a minha ]
[ pousando o meu olhar no seu
as cortinas se abrem
uma valsa carrega o meu sentir
minha mão na sua – a sua na minha ]
[ encerrando o meu olhar em sonhos
cenários se desenham
e uma noite estrelada anuncia:
eu com você – você comigo ]
a gente flutua
sinto o toque do leve corpo
que pousa delicadamente
na ponta do meu dedo
o laço repentino forja uma responsabilidade
e cuidadosamente
ergo minha mão contra a luz (fascinada)
na esperança
de que uma nova perspectiva
ilumine a trajetória
que conflui – aqui
e perceber o que nunca deixou de ser:
uma ligação
(natural, gentil, íntima)
nossa
mordo o lábio
quando lembro
do doce beijo
molhado
quando desejo
nosso toque delicado
ou se penso
em você ao meu lado
um poema sobre um poema
cuidadosamente elaborado
para um sentimento revelar
e esse mundo afora voar
feito bem-te-vi silenciado
agora posto a cantarolar
engraçada essa peça pregada
quando o acaso desafia
e outro momento anuncia
que a ideia bem planejada
impensadamente mudaria
e o poema esperaria —
o pássaro-sentimento agora voa
e por todo lado e deslado
seu canto marcante entoa
já o poema não declamado…
esse ainda é aguardado
(tempo e encontro)
o dia e a noite convidam a dançar
mas os ponteiros do relógio são espectadores
invisíveis, presentes – categóricos ou dissimulados
há um fascínio, desejo de controlar
mas à espreita, sorrateira
é a passagem infinita que conduz
feito água e ar, as mãos não podem agarrar
fechar os olhos e correr – para nunca alcançar
fechar os olhos para esquecer – e nunca para trás deixar
mas nesse ciclo manifesto, aparentemente certo
há um elemento que escapa
e delicadamente faz o tempo titubear
perceber-se diante de alguém
um encontro – sem aviso
dois pares de braços em um enlace
mergulho nos olhos que te encaram
conversa calada pela lua iluminada
paradoxo não resolvido, resolvido
e nesta fração de segundo eterna
o cônscio instante hipnotizante:
momentos de uma nova dança
entre tempo e encontro
dança
mãos que reconheço
como suas
– serão minhas?
imersas na escuridão
reveladas no preciso espaço:
o que a luz escolhe
para me provocar
eu queria, pensando agora que se foi, ter tirado um retrato dele. não seria um problema explicar essa vontade, nem a mim mesma, portanto sem necessidade de esconder a motivação em desculpas, nem para ele, caso quisesse saber. era a sua beleza. a postura de quem muito já viveu, a serenidade daqueles que sabem melhor como a vida deve ser vivida, em um corpo tão jovem e um rosto com traços simétricos. uma presença que se basta, mas que aprecia e busca o compartilhamento – em suas duas vias. havia, no entanto, um exato ponto que denunciava a ingenuidade daqueles de sua idade, e que abria as janelas que evidenciavam suas incertezas. ficava entre o sorriso discreto (que, com o olhar que o acompanhava, sem intenção, me desafiava) e o riso solto (que me fazia sorrir também). aquele ponto não admitia variação em suas dimensões exatas e por isso era tão raro de se perceber, e tanto tempo me tomou a perceber.
pergunto-me, inclusive, se fui a única a ver através delas.